...mas alguns ainda duvidam
A realidade do aquecimento global criou uma preocupação
com
o ambiente como nunca se viu: todo mundo quer fazer
sua parte para salvar
o planeta. Nesse cenário, vale a pena
conhecer a lista de prioridades
dos cientistas céticos,
aqueles que desconfiam de previsões
catastrofísticas

Okky
de Souza e Vanessa Vieira- Revista Veja- 20/10/07
Joe Nishizawa
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PREVENÇÃO
JÁ Galeria subterrânea,
com 6 quilômetros de extensão, recém-construída em
Tóquio e destinada a escoar águas de enchentes. Com o "piscinão",
a cidade se prepara para as provações resultantes do aquecimento
global |
Em que planeta vivemos? Se for no planeta
Al Gore, estamos em apuros. Um brasileiro que nasça hoje chegará
à idade adulta em um mundo hostil e diferente, no qual restarão
raros ursos-polares fora do zoológico e se poderá navegar pelas
ruas do Recife, submersas pela elevação do nível do mar.
Seus netos viverão num ambiente pestilento, com surtos de malária,
dengue e febre amarela decorrentes do clima mais quente. Na Amazônia, com
temperaturas 8 graus mais altas que as atuais, a floresta se transformaria em
cerrado e estaria sujeita a incêndios de dimensões bíblicas.
O que se chama aqui de planeta Al Gore é aquele que o político americano
descreveu em seu documentário Uma Verdade Inconveniente, cuja dramaticidade
lhe rendeu dois dos prêmios mais cobiçados que existem. O primeiro
foi o Oscar, entregue em fevereiro. O segundo é o Nobel da Paz de 2007,
que ele receberá no dia 10 de dezembro em Oslo, ao lado do indiano Rajendra
Pachauri, presidente do Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas
das Nações Unidas (IPCC). Mas será que a Terra só
tem como futuro se transformar no planeta Al Gore? Talvez não.
Um grupo de cientistas, reduzido em número mas respeitável e influente,
discorda da idéia central de Al Gore e do painel da ONU, que, de resto,
se tornou a maior religião urbana de alcance planetário de que se
tem notícia. Esses dissidentes do clima são chamados genericamente
de "céticos". Uma demonstração de que os terráqueos
ainda não chegaram ao consenso definitivo de que a Terra vai acabar nos
moldes propostos por Al Gore é a enorme repercussão do recém-lançado
Cool It, cujo subtítulo é O Guia do Ambientalista Cético
para o Aquecimento Global. O autor do best-seller, o estatístico dinamarquês
Bjorn Lomborg, foi eleito pela revista Time uma das 100 pessoas mais influentes
do mundo (veja a entrevista com Lomborg).
As divergências entre ambientalistas ortodoxos e céticos podem ser
sumariadas em quatro questões:
A
primeira diz respeito à responsabilidade humana no aquecimento global.
O IPCC afirma que a causa principal é a emissão de dióxido
de carbono (CO2) e outros gases resultantes da queima de combustíveis
fósseis, que, lançados na atmosfera, aumentam o efeito estufa. Os
céticos consideram que só parte do aquecimento global pode ser atribuída
à ação humana. A quantidade de CO2 enviada à
atmosfera pelas florestas em decomposição e pelos oceanos também
contribui. A Terra passou por outros períodos de aquecimento antes da Era
Industrial, e não se conhecem com certeza os agentes que os provocaram.
A segunda versa sobre se é
possível amenizar o aquecimento e como isso deveria ser feito. O IPCC diz
que o primeiro passo é reduzir as emissões de CO2 para
a atmosfera. A seguir, é preciso aumentar a eficiência no uso de
energia para queimar menos combustíveis fósseis. Os céticos
argumentam que não há como frear o processo de aquecimento global
nas próximas décadas. A melhor solução é investir
em pesquisas para baratear energias alternativas e, no futuro, tornar a humanidade
menos dependente de petróleo.
A
terceira é: dentro de quanto tempo os efeitos do aquecimento começarão
a ser sentidos? O IPCC diz que os primeiros sinais já estão presentes
no aumento de enchentes, secas prolongadas e maior freqüência de grandes
furacões. Os céticos estimam que os primeiros efeitos só
serão perceptíveis dentro de 50 a 100 anos.
A
quarta: qual é a severidade desses efeitos? O IPCC acha que as catástrofes
naturais serão freqüentes e devastadoras. Para os céticos,
os desastres serão poucos. Não será difícil para o
homem se adaptar a essas alterações do clima.
Seria excelente se as respostas para todas essas divergências pudessem ser
encontradas no meio do caminho entre os dois extremos. Por enquanto, isso não
parece possível. Os ursos-polares estão realmente ameaçados.
Um estudo prevê que, devido à retração da camada gelada
do Ártico, a população desses animais magníficos estará
reduzida a um terço da atual em 2050. O dar de ombros de alguns céticos,
sob o argumento de que a extinção de espécies faz parte do
ciclo natural da natureza, só nos enche de horror. Por outro lado, previsões
catastróficas claramente infladas para efeitos propagandistas são
um tiro que a ortodoxia ambientalista dá no próprio pé. Há
duas semanas, a Alta Corte da Inglaterra determinou que, ao exibirem o filme de
Al Gore nas escolas do país, os professores avisem aos alunos que ele é
tendencioso e contém nove erros flagrantes. Entre eles está a advertência
de que o nível dos oceanos pode subir 6 metros até o fim do século
– contra os 44 centímetros previstos pelos estudiosos mais pessimistas.
A diferença é gritante. Se o nível do mar subir 6 metros,
a pista do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, ficará submersa
e Botafogo perderá sua praia. Já uma elevação de 44
centímetros mal seria percebida.
Flip Nicklin/Minden Pictures/Getty Images
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Urso-polar
vê seu habitat derreter |
Lomborg
costuma levar visitantes ao Bridge Café, o mais
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