Trabalho visa mapeamento de espécies ameaçadas do cerrado O Estado de S.Paulo
Cristina Amorim
Um novo método é usado no cerrado para acompanhar espécies ameaçadas:
cães. Se historicamente os farejadores eram usados na caça, hoje eles
ajudam na conservação, conforme mostra uma experiência realizada no
Parque Nacional das Emas (GO).
A
bióloga americana Carly Vynne, do Centro para Biologia da Conservação
da Universidade de Washington (EUA), trabalhou com até quatro cães para
buscar fezes de animais selvagens em uma área de 3 mil quilômetros
quadrados, na parte oeste do parque e no entorno, em propriedades
rurais nos municípios de Costa Rica (MS) e de Chapadão do Céu (GO). O
projeto é parte de seu doutorado. Ela recebeu apoio da Universidade de
Brasília (UnB) e da ONG Conservação Internacional (CI).
O
treinamento dos animais é semelhante ao feito para que encontrem
drogas. Quando encontram as fezes, como prêmio recebem uma bola de
tênis para brincar.
Enquanto isso, Carly coleta o material para
análise de uma série de fatores, como dieta, stress hormonal e
parasitas. Ela marca a localização em um aparelho de GPS (sistema de
posicionamento global) para mapear a ocorrência de espécies como
onça-pintada, onça-parda, lobo-guará, tamanduá-bandeira e tatu-canastra.
“É
um método não invasivo, pois não é necessário capturar e sedar os
animais - o que, no caso de espécies mais raras, é difícil”, explica
Ricardo Machado, diretor do Programa Cerrado da CI. “É também mais
rápido porque, em pouco tempo, é possível acumular um grande volume de
dados, o que não acontece no caso de armadilhas fotográficas, e mais
barato do que a abordagem de animais para instalar aparelhos de
radiotelemetria.”
FRAGMENTAÇÃO
O trabalho já dá
resultados. Carly percebeu, por exemplo, que há menos trânsito de
animais nas fazendas que mantêm menos de 30% de sua área preservada -
ali, é obrigatória a manutenção de 20% da propriedade sem desmatar,
como reserva legal, mais as áreas de proteção permanente (APPs), como
margens de rios.
Espécies mais sensíveis à fragmentação da
vegetação, como a onça-pintada, praticamente não circulam fora dos
limites do parque - uma ilha de cerrado cercada por pastagens e
plantações de soja, algodão e, mais recentemente, cana-de-açúcar. Esse
tipo de informação pode ser usado para traçar estratégias de
conservação, como a formação de trechos contínuos de mata, que permitam
a circulação das espécies.
“Os dados são interessantes para
mapear onde devemos recuperar áreas degradadas”, diz Machado. “Além
disso, nossa intenção é buscar recursos para replicar a experiência em
outras regiões do Brasil.” Estudos realizados pela mesma ONG indicam
que mais da metade do cerrado, o segundo bioma mais extenso do País, já
foi desmatada e o restante corre o risco de desaparecer até 2030, se o
ritmo de corte e queima continuar. A onça-pintada, a onça-parda, o
lobo-guará, o tamanduá-bandeira e o tatu-canastra estão na lista
brasileira de espécies ameaçadas de extinção.
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